sábado, 4 de maio de 2013

Nas ruínas do castelo do general

Sob protestos de moradores de Itaipu, construção dos anos 50 foi totalmente demolida por uma empresa de Ônibus

BELFORD ROXO- No início dos anos 50, o general José Muller construiu uma casa que destoava da paisagem do bairro de Itaipu, em Belford Roxo. Conhecida como Castelinho, a residência tinha dois andares, uma torre, um jardim com piscina e um aquário com o escudo do Botafogo. No fim de 2012, a construção - que entrou para a memória do município - foi demolida pela atual proprietária, a empresa de ônibus Vera Cruz.

No lugar de tanta história, restou entulho, lixo e mato alto. Os moradores protestaram contra a demolição, mas não foram ouvidos.
Brasiliano Passos, Morador de Itaipú
- O castelo era patrimônio de Belford Roxo, fazia parte da nossa história -contou o morador Brasiliano Passos, de 53 anos.

Por um tempo, a casa foi a sede da Vigilância Sanitária. Em outubro de 2012, foi retomada pela Vera Cruz. A construção nunca foi tombada.

- O patrimônio do município não é valorizado - afirmou o historiador Marcus Monteiro, colunista do Mais Baixada, que denunciou a demolição. Procurada, a Vera Cruz não atendeu ao EXTRA. A Prefeitura de Belford Roxo informou que o imóvel foi demolido na gestão passada.



Patrimônio destruído

A demolição do Castelinho é a prova de que a Baixada Fluminense precisa proteger a sua história. De acordo com o historiador Marcus Monteiro, o único patrimônio que restou em Belford Roxo foi parte da Fazenda do Brejo: - O município perdeu quase todo o patrimônio histórico. A arquitetura da Baixada é heterogênea e nossa origem misturada, de migrantes e imigrantes.

Para Monteiro, as pessoas costumam valorizar construções da época colonial, mas não vêem a imponência das mais recentes.A Prefeitura de Belford Roxo informou que a Secretaria de Cultura vai avaliar os imóveis que podem passar pelo processo de tombamento.
MEMÓRIA

Militar atendia os moradores
No meio dos restos do Castelinho de Belford Roxo, apenas o antigo consultório do general-dentista continua de pé. A pequena casa, que está caindo aos pedaços, é muito conhecida pelos moradores da região. - Já arranquei dois dentes aí. O general era gente boa e nos atendia de graça. Também usava seu carro para nos levar ao hospital e até apartava brigas de marido e mulher. Cuidava de todos - lembra o aposentado Carlos Rocha, de 62 anos.

O coração do militar nem sempre era mole. Segundo o historiador Marcus Monteiro, o general demitiu vários pedreiros e derrubou dezenas de paredes malfeitas durante a construção do Castelinho. Só sossegou ao contratar Grinovaldes Alves Calixto para fazer o trabalho. Muller acabou padrinho de casamento de Grinovaldes. A sensibilidade do general voltou a fraquejar no da vida. Os moradores contaram que ele morreu, aos 85 anos, com a emoção de saber que o filho fora 
promovido a general.

fonte: Jornal Extra
Mais Baixada

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